Dobhar-chú: A Lontra Mutante da Irlanda



Dobhar-chú seria a lontra mutante habitante dos lagos da Irlanda antiga, sobre à qual fala-se em muitos contos e cantos regionais. A Lontra está associada a sabedoria e às habilidades ancestrais, e representa confiança e determinação, a lealdade e a cura espiritual.

A Irlanda tem diversas lendas sobre essa criatura. Uma das principais é essa que iremos relatar. O conto decorre do bestial assassinato de Grainne Ni Conalai (Grace Connolly) no Lago Glenade, Condado de Leitrim em 24 setembro 1722. Os detalhes eram conhecidos por todos, uma vez que a balada era cantada nas feiras das ruas de Kinlough e nas proximidades. Alguns dizem que ela fora ao lago para lavar a roupa, já a balada canta que iria banhar-se. Mas esta não é a questão. Ao perceber que ela não retornaria, seu marido Traolach Mac Lochlainn ou McGloughlan, passou a procurá-la, e ficou horrorizado quando viu o corpo de sua amada deitado à beira do lago com a besta adormecida sobre seu peito mutilado. As palavras do poema a seguir foram escritas na época do incidente, fazem parte da lenda em torno de um evento que estimula a discussão e polêmica até os dias atuais. A balada foi habilmente composta por um “professor da escola do tempo”. Uma versão abreviada abaixo traz a história viva da vida:

[...] E enquanto isso, aquela linda vida, forma qual não faltava beleza, fora roubada pelo Dobhar-chú diante a imensidão do lago que ceifava sua vítima, ela quem concedeu cama e bordo àMcGloughlan; Sua esposa amorosa, muito mais do que sua vida, quem ele mais que adorava.
[...] Ela, depois de ter ido banhar-se ao que parece dentro da água clara, não retornara quando devia, seu marido tomado pelo medo correu para onde poderia encontra-la, quando oh! Jazia estendido diante de seus olhos para sua surpresa uma forma mutilada ainda sangramento quente.
[...] Sob seu peito que fora branco como neve um dia, mas agora lambuzava-se de sangue, repousava o ser: Dobhar-chú entre seus intestinos e as vísceras todo tingido com uma tonalidade avermelhada: “Oh, Deus”, gritou ele, “Não posso suportar isso, mas o que faço agora?”
[...] Ele orou com força, o demônio estava ali deitado, McGloughlan ao ver a cena cambaleava como uma criança, o ódio e o sangue ferviam dentro de suas veias rápido e selvagem. Era perda de tempo olhar para aquela que ele amava, então rapidamente voltou para casa enquanto toda a sua raiva e paixão reprimida violentamente queimavam.
[...] Ele chegou à sua casa, ele pegou sua arma apertando-a com nervos de aço e voltou correndo. Levantou seu braço e, em seguida, um tiro. Um grito de morte se ouviu pelo ar perfumado. Mas, o que é isso, isso que veio no momento seguinte, saindo das profundezas como se clamasse por vingança!
[...] A besta do demônio morria com apitos longos e fortes enquanto seu companheiro aparecido do nada aproximava-se. McGloughlan, tremendamente intimidado correu para sua casa. Seus vizinhos o aconselharam, o condado o questionou, e voando mandaram-no fazer de uma vez e não esperar até o anoitecer a perigar pela sua vida.
[...] Ele e seu irmão, um par resistente, tomaram seus cavalos, abandonaram suas casas e foram ao oeste. Cada um tinha para sua proteção um punhal afiado durante longo tempo, velozes perseguiam por aquela fera brutal, o Dobhar-chú assobiador.
[...] As rochas estalavam, as águias gritavam de pavor. O lavrador houvera deixado seus cavalos e peixes sozinhos e dizia: “Longe da montanha, pelos córregos distantes, vou correndo para o mar…” As leis da natureza então pararam, para assistir a morte ou a vitória.
[...] Por 20 milhas os cavalos galantes e seus orgulhosos cavaleiros furavam vales de poderosa estirpe nunca vistos antes. A besta rasgava pelas trilhas com seu grito estridente de medo; Os irmãos tentariam ou morreriam no vale de Cashelgarron. Desmontando seus cavalos ofegantes, colocaram-se em cada caminho sentido aos antigos pântanos, e de pé os cavalos aguardavam por eles. Com suas adagas levantadas, os nervos de seus braços preparavam-se para atacar e impetrar o golpe fatal.
[...] Após pouco tempo de espera o animal com o nariz na trilha havia farejado o rastro e chegara. Os cavalos haviam servido de isca, sem pensar, com seu punhal fervendo ele mergulhara por baixo do cavalo… McGloughlan fincara seu punhal até o cabo através do coração da besta. “Obrigado Deus, obrigado Deus”, os irmãos choraram no delírio da selvageria e prazer, a humilde casa do lago Glenade dever-lhes-ia abrigo nesta noite.
[...] Se há alguma dúvida sobre o que eu escrevo, visite a velha Conwell, e lá verá o túmulo onde dorme o valente, seu cavalo, e a linda esposa cujo epitáfio eu conto.

Alguns habitantes descrevem Dobhar-chú como tendo uma ou mais manchas brancas sobre as costas, especialmente uma marca grande no meio do peito. Outros o descrevem como predominantemente branco com duas manchas pretas nas pontas das orelhas e uma grande no meio das costas no formato de cruz. Suas pernas posteriores são maiores do que as anteriores como um cachorro. As patas são grandes como seria de se esperar de um mamífero aquático. A cabeça é elegante e parece muito com uma lontra, o pescoço é longo, e a cauda longa e delgada com um tufo no final. Relatos dizem que estas criaturas vivem em lagos da Irlanda desde os tempos antigos. São altamente agressivas com pessoas e cães, atacam a presa segurando e arrastando-a para a água e muitas vezes os mais ferozes cães não são páreos. Andam em duplas, um animal geralmente fica escondido enquanto o outro ataca e aparece se o primeiro tem problemas. Se um deles é morto o outro torna-se extremamente irritado e correrá o risco de sua própria vida para se vingar. Um relato fala sobre um Dobhar-chú que perseguiu um homem que matara seu companheiro por mais de 20 milhas, mesmo em desvantagem pela terra.


No folclore irlandês, Dobhar-chú é considerado o rei das lontras ou o pai de todas as lontras, uma só polegada de seu couro é um amuleto forte o bastante para proteger um homem contra os disparos de qualquer arma de fogo, impedir o naufrágio de um barco e preservar cavalos de sofrerem ferimentos. Seria o sétimo filhote uma lontra comum de tamanho muito maior do que o usual para sua espécie, maior às vezes que um homem. Descrito como completamente branco exceto pelas orelhas pretas. Apresenta uma grande marca em forma de cruz no dorso, nunca dorme e aparece frequentemente na companhia de um séquito de outras lontras.

Fonte

Comentários
1 Comentários

1 comentários :